Pelo menos 225 dos mais de 2.400 detidos durante os protestos contra a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro em julho foram libertados na Venezuela, informou o Ministério Público no sábado (16), enquanto ONGs confirmam a libertação de mais de 100 pessoas.
O Observatório Venezuelano de Prisões informou que, entre os libertados, há "quatro adolescentes" que estavam detidos em Guárico (centro).
Os relatos de libertações começaram na manhã de sábado em várias prisões, incluindo Las Crisálidas e Yare III (estado de Miranda), Tocorón (Aragua) e Tocuyito (Carabobo). A agência AFP constatou nove pessoas soltas da penitenciária Yare III.
O que houve durante as manifestações
Mais de 2.400 pessoas foram detidas durante as manifestações, que deixaram 28 mortos e quase 200 feridos, segundo dados do Ministério Público. Entre os detidos, havia 164 adolescentes, dos quais 69 continuam atrás das grades.
"Eu me sinto bastante bem, fico feliz de estar de volta na rua", disse Alexis José Ochoa, de 64 anos, ao sair de Yare, onde os familiares receberam os recém-libertos entre aplausos, abraços e lágrimas.
"Nos tratam bem no presídio, mas o ruim foi a atitude dos policiais nacionais quando nos prenderam", acrescentou. "Hoje, nos buscaram às 5h da manhã". Entre brincadeiras, os policiais disseram: "Vai ser transferido (...) Está livre, garoto!".
Alguns familiares foram notificados sobre as libertações, enquanto outros foram até os centros penitenciários devido a rumores que circulavam nas redes sociais.
"Hoje viemos porque soubemos pelas redes", contou à AFP Alexandra Hurtado, de 47 anos, enquanto aguardava junto com cerca de 50 pessoas em frente a Yare, vestindo uma camisa com a foto de seu filho Oscar Escalona, de 23 anos, e a mensagem: "Não é terrorista, é inocente".
Revisão de casos
Em Las Crisálidas, outro grupo também aguardava as libertações de mulheres detidas.
"Esses quatro meses foram horríveis, ver minha filha chorando pelos cantos. (...) Eu dizia para ela, 'mamãe, logo vai sair'", contou à agência AFP Junior, um chef de 34 anos que não quis revelar seu sobrenome e aguardava para saber se sua esposa seria libertada.
O MP anunciou na sexta-feira a revisão de 225 casos de detidos, atendendo a um pedido do próprio Maduro, que pediu para "retificar" caso tenha ocorrido "algum erro processual". A entidade não especificou quais casos seriam revisados.
Maduro foi proclamado vencedor das eleições de 28 de julho, embora os detalhes da apuração dos votos não tenham sido divulgados. A oposição, liderada por María Corina Machado e seu candidato presidencial Edmundo González Urrutia, denuncia fraude.
"Aquele que tenha sido responsável por ações criminosas, sujeito a uma vinculação como participante direto das mesmas, será punido, será sancionado; quem não tiver responsabilidade no contexto de uma investigação, será sujeito a revisão de medida", disse o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, na sexta-feira.
"Crise repressiva"
Centenas de familiares protestaram exigindo "justiça", afirmando que seus entes queridos detidos não estavam participando das manifestações no momento em que foram presos. Também denunciaram torturas e maus-tratos.
Na segunda-feira, um grupo de familiares planeja fazer uma "vigília" em frente ao MP para continuar exigindo mais libertações. "Não são 225, são mais de 2.000 jovens detidos injustamente!", diz a convocação para o evento.
Segundo o Foro Penal, que denunciou uma "crise repressiva", havia "1.976 presos políticos" até quinta-feira na Venezuela.
Este é o "maior número de presos políticos no século XXI, e o maior número de presos políticos em todo o continente americano", afirmou a entidade.
A oposição denunciou que os detidos estão em condições "desumanas" e que foi negado atendimento médico a eles. Um militante opositor faleceu na quinta-feira sob custódia das autoridades devido a um problema cardíaco associado a complicações por diabetes.
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