Marabá: Roda de conversa marca início da campanha “16 dias de ativismo” pelo fim da violência contra as mulheres
A presidente do Comdim, Luana Bastos, observa que a campanha tem caráter nacional, ressaltando ações de não-violência e combate a todo tipo de opressão contra a mulher.
Com o tema “Todas as vozes em defesa da mulher”, a abertura da campanha “16 dias de ativismo” deu-se na tarde de terça-feira, 19, no Museu Municipal Francisco Coelho, na Marabá Pioneira. Com uma decoração alusiva ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, além de roda conversa com três profissionais da educação e saúde, com foco nos direitos da mulher, a programação é organizada pela Secretaria Municipal de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac), por meio do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabá (Comdim).
Roda de conversa
Na roda de conversa, que ocorreu no museu, as palestrantes das áreas de História, Enfermagem e Ciências Sociais, destacaram questões pertinentes sobre os tipos de violência contra mulheres e meninas, bem como índices, problemas de saúde mental e as desigualdades de salário e emprego. Além disso, foi lançado um material didático contendo formulários, que foi encaminhado a todas as entidades e movimentos sociais no município para elencar tudo o que é desenvolvido em prol da mulher.
“Nós tivemos um retorno tanto das ações que as entidades fazem, executam, desenvolvem, como também do material que elas têm que possa ser compartilhado e unido nesse material. Então, através desse formulário nós colocamos em um panfleto que vai ficar disponível no Comdim, inclusive, contendo um QR Code e através dele nós vamos ter acesso ao material institucional próprio do Condim, com músicas e outros materiais que possam auxiliar nesse acolhimento”, explica a historiadora Ana Beatriz Ferreira, uma das palestrantes.
Falar de saúde nesse contexto também é fundamental, como contribui a enfermeira Cilene Melo, e também docente na área da saúde da Universidade do Estado do Pará (UEPA), campus Marabá. De acordo com ela, a UEPA desenvolveu pesquisas para traçar o perfil da mulher que sofre violência no município de Marabá, que possui índices de ansiedade e depressão nesse público. Para ela, a partir desses dados é possível entender esses recortes e como funcionam as políticas públicas de atenção à mulher em um ciclo de violência que muitas vezes se repete.
“Ou seja, o ciclo da violência faz com que as mulheres fiquem presas nesse momento do homem agredi-las, pedir desculpa e retornar ao ciclo. Elas têm dificuldades porque muitas vezes esses homens são os provedores da casa e elas não conseguem se desvincular desse ciclo. Dessa forma, quando se compreende o contexto de saúde mental delas, compreende-se quem vai recebê-las nos serviços de saúde, como intervir nesse momento da violência. Profissionais bem formados também vão fazer parte desse ciclo, principalmente porque eles vão estar nos serviços de saúde, tanto em atenção básica como nos hospitais”, reflete a profissional.
Os obstáculos que impedem a mulher, principalmente a mulher negra, de conquistar espaços de valor na sociedade também foi um tema abordado na conversa. A socióloga Etiane Macêdo, professora no Campus Rural do Instituto Federal do Pará (IFPA) de Marabá, observa que, historicamente, diversos grupos foram colocados à margem e na base da pirâmide social como as mulheres negras. Nesse sentido, esses grupos foram e continuam sendo invisibilizados, recebem menores salários e têm mais dificuldade de ocupar espaços de poder e ascender socialmente.
“São empecilhos inclusive para crescimento, desenvolvimento enquanto sociedade. Eu acho que todo debate é importante no sentido de tornar pública a pauta de que é realmente importante pensar políticas públicas para que essa desigualdade diminua até o momento em que ela não exista mais. Para isso, são necessário debates, estudos, rodas de conversa, como esta, para que as instituições públicas estejam forte e efetivamente envolvidas dentro desse contexto de luta por igualdade racial nesse universo, nesse grupo social que ainda é invisibilizado, que são as mulheres negras, as mais vulneráveis em empregos subalternos”, pontua.
A campanha
“Nós, enquanto conselho, trabalhamos esses 16 dias de ativismo, para justamente trazer alguns diálogos, reflexões sobre o papel da mulher na sociedade, principalmente a mulher negra, na qual os dados estatísticos mostram que elas são mais violentadas, mais excluídas. Então, vai ser um momento em que mulheres de todas as raças unem-se numa só voz para destacar sobre a não-violência contra as mulheres”, comentou a presidente do Comdim, Luana Bastos.
Durante os 16 dias, o conselho irá promover atividades em diversos setores da sociedade, como escolas, faculdades e espaços públicos. Segundo Gilmara Neves, da mesa diretora no Comdim, cada dia da campanha é fundamental para desenvolver momentos onde a pauta é a proteção e valorização da mulher, inclusive entre os homens, como na atividade do dia 8 de dezembro, que será por meio de uma competição de futebol.
“Algumas atividades serão fechadas e para um público específico, que são os homens, para que a gente os traga a essa campanha, pois também precisamos do apoio deles para continuar nesta luta. Além disso, teremos dias de programação para todos, como no dia 21, na Faculdade de Carajás, um dia inteiro de workshop com palestra, apresentação de dados e materiais para ter como um guia, para essa mulher que de repente sofre a violência saber onde procurar ajuda, com quem falar e quem fica à disposição para atendê-la”, ressaltou a conselheira.
A programação se encerra no dia 10 de dezembro, na Orla Encontro dos Rios, com o “Pôr do Sol com elas”, a partir das 17h30. A data foi escolhida em alusão ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado desde 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU).
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